Madalena, nasceu a princesinha

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Madalena, que linda bébé, és a nossa primeira neta! Chegaste hoje, depois dos teus manos, os dois belos príncipes Afonso e Martim. Vieste ao mundo no meio desta guerra contra a pandemia, portanto já sabes, irás ser sempre uma guerreira!

Falando de guerreiros, conta-nos o grande escritor chileno Luís Sepúlveda (deixou-nos o ano passado com a Covid-19), na sua obra “História duma gaivota e do gato que a ensinou a voar“, que um dia uma formosa gaivota apanhada por uma maré negra de petróleo, momentos antes de se afogar, deixa ao cuidado dum guerreiro, o Zorbas — um gato grande, preto e gordo — o ovo que acabara de pôr! É uma bela história de Esperança, Amizade, Solidariedade e Compaixão.


“Sei Lá…”, a melhor canção de Bárbara Tinoco, para ti Madalena, o papá, a mamã e os manos

… Um gato no choco


Zorbas, que é um gato de palavra, cumprirá as duas promessas que nesse momento dramático lhe é obrigado a fazer: não só criará a pequena gaivota, como também a ensinará a voar. Tudo isto com a ajuda dos seus amigos Secretário, Sabetudo, Barlavento e Colonello.

Muitos dias passou o gato grande, preto e gordo deitado junto do ovo, protegendo-o, aproximando-o de si muito suavemente com as suas patas peludas de cada vez que um movimento involuntário do corpo o afastava alguns centímetros.

Ocasiões houve em que, entorpecido pela falta de movimentos, já que, segundo as ordens de Colonello, só abandonava o ovo para ir comer e visitar o caixote onde fazia as suas necessidades, sentiu a tentação de verificar se dentro daquela bolinha de cálcio crescia efetivamente um filho de gaivota. Então aproximou uma orelha do ovo, e depois a outra, mas não conseguiu ouvir nada.

Colonello, Secretário e Sabetudo visitavam-no todas as noites e examinavam o ovo para verificar se acontecia aquilo a que Colonello chamava «progressos esperados», mas quando viam que o ovo continuava igual ao que era no primeiro dia mudavam de conversa.

Sabetudo não deixava de se lamentar de que na sua enciclopédia não estivesse indicada a duração exata da incubação: o dado mais concreto que conseguiu retirar dos seus grossos livros foi que esta podia durar entre dezassete e trinta dias, consoante as características da espécie a que pertencera a gaivota mãe.

O choco não fora fácil para o gato grande, preto e gordo. Não se podia esquecer da manhã em que o amigo da família encarregado de tratar dele achou que no apartamento se estava a acumular poeira a mais e decidiu passar o aspirador.

Todas as manhãs, durante as visitas do amigo, Zorbas ocultava o ovo no meio de uns vasos da varanda, para poder assim dedicar uns minutos àquele bom tipo que lhe mudava a areia do caixote e lhe abria latas de comida. Miava-lhe agradecido, esfregando-lhe o corpo contra as pernas, e o humano ia-se embora repetindo-lhe que era um gato muito simpático. Mas, naquela manhã, depois de o ver passar o aspirador pela sala e pelos quartos de dormir, ouviu-o dizer:

E agora a varanda. Entre os vasos é onde se junta mais lixo.
Ao ouvir o estoiro de uma fruteira a partir-se em mil pedaços, o amigo correu para a cozinha e gritou da porta:

Tu endoideceste, Zorbas? Olha o que fizeste! Sai já daqui, gato idiota! Só faltava que espetasses um estilhaço de vidro nas pastas.
Que insulto tão imerecido! Zorbas saíu da cozinha fingindo uma grande vergonha, de rabo entre as pernas, e trotou para a varanda.

Não foi fácil fazer rolar o ovo para debaixo de uma cama, mas conseguiu-o, e ali esperou que o humano acabasse a limpeza e se fosse embora.

Ao entardecer do dia número vinte Zorbas dormitava, e por isso não percebeu que o ovo se movia, como se quisesse pôr-se a rolar pelo chão. Acordou com umas cócegas na barriga. Abriu os olhos e não pôde deixar de dar um salto quando viu que, por uma greta do ovo, aparecia e desaparecia uma pontinha amarela.

Zorbas pegou no ovo entre as patas da frente e viu assim como a avezinha dava picadas até abrir um buraco por onde enfiou a diminuta cabeça branca e húmida.

Mamã! — grasnou a gaivotinha.

Zorbas não foi capaz de responder. Sabia que a cor da sua pele era preta, mas achou que a emoção e o rubor que o invadiam o transformavam num gato lilás.


Zorbas e a gaivotinha

Não é fácil ser Mamã …

Mamã! Mamã! — tornou a grasnar a gaivotinha, já fora do ovo. Era branca como o leite e umas penas finas, ralas e curtas cobriam-lhe parcialmente o corpo. Tentou dar uns passos e caiu junto da barriga de Zorbas.

Mamã! Tenho fome! — grasnou, dando-lhe bicadas na pele.
Que havia de dar-lhe de comer? Sabetudo nada tinha miado a esse respeito. Sabia que as gaivotas se alimentavam de peixe, mas aonde ia ele buscar um pedaço de peixe? Zorbas correu para a cozinha e regressou fazendo rolar uma maçã.

A gaivotinha endireitou-se nas suas patas cambaleantes e precipitou-se para a fruta. O biquinho amarelo tocou na casca, dobrou-se como se fosse de borracha e, ao endireitar-se novamente, catapultou a gaivotinha para trás, fazendo-a cair.

Tenho fome! — grasnou ela colérica. — Mamã! Tenho fome!
Zorbas tentou que ela desse umas bicadas numa batata, em algumas das suas bolachinhas. Tudo foi em vão. Então, no meio do seu desespero, lembrou-se de que a gaivotinha era um pássaro, e que os pássaros comem insetos.

Saiu para a varanda e esperou pacientemente que uma mosca se lhe pusesse ao alcance das mãos. Não tardou a caçar uma e entregou-a à ave faminta. A gaivotinha pegou na mosca com o bico, apertou-a e, fechando os olhos, engoliu-a.
Que comida tão boa! Quero mais, mamã, quero mais! — grasnou ela entusiasmada.

Zorbas saltava de uma ponta à outra da varanda. Havia reunido cinco moscas e voltou para junto da gaivotinha faminta com o seu espólio de insetos. A gaivotinha devorou as cinco moscas. Satisfeita, soluçou e encolheu-se, toda colada ao ventre de Zorbas.
Mamã, tenho sono — grasnou.
Ouve, tenho muita pena mas eu não sou a tua mamã — miou Zorbas.
Claro que és a minha mamã. E és uma mamã muito boa — replicou ela fechando os olhos.

Quando Colonello, Secretário e Sabetudo chegaram, encontraram a gaivotinha adormecida ao pé de Zorbas.
Parabéns! É uma avezinha muito bonita — disse Sabetudo.
Mas a avezinha não tem nada que comer. É terrível! Terrível! — insistiu Sabetudo.
Tens razão. Tive que lhe dar umas moscas e acho que não demorará a querer comer outra vez — reconheceu Zorbas.
Secretário, de que está à espera? Corra ao restaurante e regresse com uma sardinha — ordenou Colonello.

Mamã, quem são estes? — grasnou a gaivotinha apontando para os gatos.
Mamã! Chamou-te mamã! Que ternura! — conseguiu Sabetudo exclamar, antes de o olhar de Zorbas o aconselhar a calar a boca.

Bom, ‘caro amico’, cumpriste a primeira promessa, estás a cumprir a segunda e só te resta a terceira — declarou Colonello.
A mais fácil: ensiná-la a voar — miou Zorbas ironicamente.
Havemos de conseguir. Estou a consultar a enciclopédia, mas o saber leva o seu tempo — garantiu Sabetudo.
Mamã! tenho fome! — interrompeu-os a gaivotinha.

Adaptado do livro “História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar” — Luís Sepúlveda

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